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O Movimento Mobiliza UEG consiste num movimento unificado de professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos da Universidade Estadual de Goiás, espontâneo, independente, não institucionalizado, não hierarquizado e que adota como estratégia de atuação a ação direta. Seu objetivo é intervir no processo de construção da UEG com a finalidade de torná-la, de fato, uma universidade pública, gratuita, autônoma e democrática, capaz de cumprir o seu papel enquanto instituição de educação superior, produtora e socializadora de conhecimentos que contribuam para o bem-estar da sociedade goiana, em particular, da sociedade brasileira, em geral, e, quiçá, de toda a humanidade, primando pela qualidade reconhecida social e academicamente.

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sábado, 22 de novembro de 2014

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA UEG (PROFª LUCIANA MARIA DE ALMEIDA)

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA UEG E A QUEM INTERESSAR
Sobre minha saída da UEG

Muito tem se lutado no Brasil por Universidades democráticas. Democráticas no diálogo acadêmico, no diálogo com a sociedade, autônomas em sua produção científica, técnica, artística e cultural. Lutas travadas por Universidades que sejam comprometidas de fato com o trabalho humano socialmente produzido e não com a rentabilidade e o lucro do capital financeiro. Estas são lutas históricas, travadas cotidianamente por aquelas e aqueles que se empenham por Universidades democráticas e por uma sociedade democrática. A democracia universitária deve zelar para que órgãos colegiados não sejam apenas requisitos administrativos, mas que de fato sejam deliberativos. Deve ampliar os debates, circular informações, e não ter medo das assembleias gerais nas quais a comunidade universitária possa se reunir para refletir, propor, decidir e repensar os caminhos da Universidade. Deve respeitar o ser humano, a pluralidade, a diversidade, e por em prática sua essência: a universalidade, o universo de pensar e fazer em múltiplas formas, em múltiplas concepções, em múltiplas ideologias, no exercício constante da ética no serviço público.
O processo chamado redemocratização da sociedade brasileira, não eliminou o autoritarismo estatal, maquiou-o nas chamadas democracias representativas, as quais de fato representam os interesses do grande capital. E, embora se gabe que a educação seja área prioritária, o autoritarismo do Estado neoliberal vem executando seu projeto de desmantelamento do ensino superior público e gratuito, ou mesmo, subordinando-o à reprodução cotidiana da lógica do capital. Juntem-se a isso, altas doses de tradicionalismo, de clientelismo e de coronelismo: tem-se a política educacional do Estado de Goiás, expressa nas gestões educacionais em âmbito da educação básica e do ensino superior.
Neste contexto, os corações rebeldes e envoltos pelo desejo de transformação só possuem uma alternativa: lutar contra as opressões. Lutas cotidianas, refletidas nas ações de educadoras e educadores comprometid@s com esta perspectiva. Ações pautadas no compromisso da elaboração de aulas que desejam sempre a reflexão e o fazer críticos; no desenvolvimento de pesquisas que contribuam para a formação discente e que os permitam adentrarem a perspectiva da práxis, entrelaçando o saber e o fazer para construção de uma sociedade justa; desenvolvendo atividades de ensino e extensão compromissadas com a ampliação de horizontes, com o respeito à diversidade étnica, racial e de gênero, com a aproximação da academia e movimentos sociais, com correntes teóricas e ideológicas de matizes, ainda que diversificadas, que estejam compromissadas com as lutas da juventude, das minorias e com a ruptura das lógicas de opressão.
Durante esses quase quatro anos como professora efetiva na Universidade Estadual de Goiás, tentei me colocar no âmbito das reflexões e ações descritas no parágrafo anterior, tendo clareza de que esta forma de agir e pensar são embates diretos ao sistema vigente e tendo clareza de suas possíveis consequências. Nunca pretendi ser unânime no espaço da universalidade, mas o respeito é fundamental e quando os limites do desrespeito se tornam sórdidos e cruéis, é hora de repensar os caminhos. Divulgou-se nas redes sociais minha aprovação no IFG e tentaram vincular minha saída da UEG a esta questão, mas, esclareço que fui aprovada no IFG em segundo lugar e como era apenas uma vaga, não fui convocada, não tenho expectativas quanto a isso, e isso nada tem haver com minha saída da UEG. Saio da UEG pelos diversos desrespeitos da lógica autoritária à minha pessoa e pela compreensão de que o exército de restritos combatentes às vezes é demasiado desgastante, nos adoecendo física e mentalmente. E assim, repensando caminhos, me despeço da Universidade Estadual de Goiás, mas não me despeço das lutas, pois em qualquer caminho que eu trilhe haverá lutas a serem travadas, por conta de minhas perspectivas de sentir e viver as questões sociais.
Deixo meu mais absoluto respeito a muitas professoras e professores da UEG e de outras Universidades, militantes dos movimentos sociais e artistas que contribuíram com as atividades que tentei desenvolver e com outros/as tantos/as, professores/as e servidores/as da UEG com os/as quais mantive um relacionamento respeitoso e fraterno de trabalho. Deixo meu mais absoluto respeito às companheiras e companheiros do Movimento Mobiliza UEG, que travam batalhas pela Universidade verdadeiramente democrática. Deixo meu mais absoluto respeito aos estudantes com os quais pude manter trocas de aprendizados, gentilezas e esperanças na vida, no ser humano e num mundo sem opressões, e que de fato ajudaram a construir aulas colaborativas e mutuamente enriquecedoras, que ajudaram a colorir de lilás o março, a quebrar as correntes de abril, a travar as lutas de maio e de todos os dias, a pintar o arco-íris de junho, sentir o gosto da liberdade artística de agosto e refletir e dialogar a educação no setembro. Meu respeito e carinhos eternos. Fica no muro da saudade, um grafite pintado de contradições e esperanças, de desrespeito e respeito, de grosserias e gentilezas, de sorrisos e lágrimas, mas a certeza de que valeu a pena.
Saudações combativas.
Luciana Maria de Almeida - Cientista Social/Mestre em Educação. (ex-professora da UEG, Unidade Formosa). 

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